sábado, 26 de setembro de 2009

Quando o mundo enlouqueceu...



Era uma vez um reino...



...onde os mentirosos eram recompensados.







...onde os justos eram castigados.






...onde muitos possuíam muito pouco.









... e onde os poucos não se contentavam com o muito que tinham.











Neste lugar as leis eram regidas por um cruel ditador conhecido como






Este texto poderia ser uma ficção.

Poderia simplesmente ser um conto, uma narrativa fantástica, tendo em vista a maciça presença de fatos absurdos. Sinto decepcioná-lo... É somente um modo (bem particular) de ver o mundo em que vivemos.

domingo, 30 de agosto de 2009

Santa Paciência!

Ultimamente não tenho tido a companhia de uma “amiga” preciosa: a tal da “paciência”! Acredito que muitos compartilham tal desventura, por isso deixo aqui um texto cuja autoria é atribuída a Arnaldo Jabor (em tempos de internet é difícil ter certeza de algo, sobretudo no que se refere à autoria...). Bom, o fato é que tais palavras me fizeram repensar um pouco sobre a vida.
Sem paciência para ler até o fim?... Faça uma forcinha... Vale a pena!





PACIÊNCIA
Por Arnaldo Jabor


Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados... Muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.


Por muito pouco a madame que parece uma lady solta palavrões e berros que lembram as antigas trabalhadoras do cais... E o bem comportado executivo? O cavalheiro se transforma numa besta selvagem no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar...

Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma mala sem alça. Aquela velha amiga uma alça sem mala, o emprego uma tortura, a escola uma chatice.
O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.

Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado...
Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais.
Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus.

A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta.
Pergunte para alguém, que você saiba que é ansioso demais onde ele quer chegar?
Qual é a finalidade de sua vida?
Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.

E você?
Onde você quer chegar?
Está correndo tanto para quê?
Por quem?
Seu coração vai agüentar?
Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
A empresa que você trabalha vai acabar?
As pessoas que você ama vão parar?
Será que você conseguiu ler até aqui?

Respire... Acalme-se...

O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência...


NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL...
SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Visão


Levantei da cama pensando que seria um dia comum. Tudo estava normal: minha vida ainda era um grande labirinto escuro. Cumpri minha rotina, saímos do prédio (eu e meu amigo), cumprimentei os vizinhos que encontrei no caminho... Tomei o metrô. Como sempre, a confusão de vozes, os odores característicos dos passageiros, tudo como sempre. Foi, então, que absorvido em meus pensamentos, eu a vi. SIM, a vi. Não era minha imaginação... Por um instante pensei estar ficando louco. Nada, porém, poderá mudar o ocorrido: eu a vi! Linda...Uma beleza peculiar, muito especial! Lia uma revista com um jeito desinteressado, não escutei sua voz, mas tenho certeza que se ela movesse os lábios certamente sairia um som melodioso. Olhei mais atentamente... Seriam pétalas de rosas ao seu redor? Perguntei baixinho ao meu amigo se ele conseguia ver aquela cena magistral. Como resposta só escutei sua respiração tranqüila, aquilo devia significar um sim...
Já em meu destino fiquei observando enquanto ela se afastava. Senti uma grande paz, que foi interrompida por rumores da multidão...Tudo havia voltado ao normal... Havia? Andei alguns passos e, de repente, um forte estrondo, um alvoroço.
– O que aconteceu? – alguém perguntou.
– Aquela criança quase foi atropelada! Se não fosse aquela moça salvá-la...
– Ela morreu?
– Acho que sim!...
Afastei-me lentamente, enquanto os curiosos ainda comentavam sobre o ocorrido. Não vi quem era a corajosa mulher que deu a sua vida para salvar uma criança, mas por algum motivo eu tinha certeza que naquele instante seu corpo estava repleto de pétalas de rosas...


***


Não consigo dormir. Eu vi... Tenho certeza... Dessa vez não foi uma bela jovem. Dessa vez a paz cedeu lugar ao medo. Caminhava tranqüilamente no calçadão. O som do mar é um dos mais belos que existe. Não sei por quê, mas pouco a pouco um outro som se destacava em meio ao emaranhado de ruídos: eram passos. Lentos. Ritmados. Calculados. Passaram por mim. Foi quando o vi. Ameaçador, tenebroso. Envolvido por um manto negro. Senti um arrepio atravessar todo o meu corpo. Não vi seu rosto, mas não precisava, pois a respiração ofegante do meu amigo me explicava tudo...
Continuei caminhando, agora um pouco mais devagar. Os passos desconhecidos se afastavam, mas misteriosamente seu som ainda se destacava dos demais.
SILÊNCIO.
Um disparo. Gritos.
Agora os passos não andavam. Corriam. Eram passos de um assassino.

***

Ainda não compreendo bem, mas já não duvido dos meus olhos. Vejo essas “pessoas” por toda a parte. Não sei quem são ou o que são. Algumas vezes são serenos e irradiam por onde passam uma paz inigualável, outras simplesmente me despertam medo. Acho que não sabem que as vejo. Aliás, ninguém sabe. Achariam que estou louco... O jeito é aprender a conviver com elas...


***


Os trechos acima são fragmentos do diário de Marcelo, um jovem de 25 anos que perdeu a visão ainda na infância.Encontrados na memória de seu computador após sua trágica morte – salvando um suicida do afogamento – , os relatos ainda causam muita controvérsia entre aqueles que os lêem. Há quem acredite que não passam de frutos da imaginação de um rapaz cego e solitário, que só possuía como amigo um cão labrador. Mas há quem jure – principalmente aqueles que testemunharam sua morte – que Marcelo tinha o dom de ver muito além do que é permitido aos meros mortais; que tinha o estranho (e maravilhoso) dom de enxergar a alma humana.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Liberdade...

Vênus e a gata – Fábula de Esopo


Uma gata se apaixonou por um rapaz e pediu por favor a Vênus que fizesse com que ela virasse moça, pois achava que assim podia conquistar o rapaz. A paixão era tanta que a deusa ficou com pena e transformou a gata numa linda garota. O rapaz se apaixonou por ela no mesmo instante e pouco depois os dois se casaram. Um dia Vênus resolveu verificar se a gata tinha mudado por dentro assim como tinha mudado por fora e mandou um rato passear pelo quarto onde estava o casal. A garota, completamente esquecida de quem era, correu atrás do rato para agarrar o bicho. Parecia que estava querendo comer o rato na mesma hora. A deusa, vendo aquilo, ficou tão chateada que imediatamente transformou a moça de novo em gata.

Moral: A aparência pode ser mudada, mas a natureza não.

Engraçado... li hoje essa fábula e embora não concorde 100% com ela, não pude deixar de reconhecer a sabedoria de Esopo...


Após vários dias de ausência, a própria escrevedora estranha o motivo desta postagem... Pode parecer loucura, mas apesar da falta de tempo, senti uma imensa necessidade de escrever acerca de um assunto que a esta altura já está mais do que comentado: a morte de Michael Jackson. Não sou fã, ou qualquer coisa do tipo – apesar de admirar sua criatividade e talento em arrebatar multidões. O que me leva a dedicar estas linhas ao “astro pop” – como os telejornais repetem a todo momento – é a personalidade contraditória de Jackson.
Iniciei este blog falando sobre liberdade. A conturbada vida (e morte) do cantor norte-americano me conduz mais uma vez a esse tema. Afinal, Michael Jackson conheceu os extremos: desde a adoração inveterada dos fãs e a riqueza surreal, ao inferno de uma alma incompreendida (e muitas vezes ridicularizada).
Pedófilo? Louco? Gênio?... Poderíamos utilizar diversos adjetivos na tentativa de decifrar um ser humano tão singular, mas seria praticamente impossível alcançarmos um consenso. Por isso, deixo aqui minha humilde opinião: na quinta-feira, 25 de junho de 2009, uma alma extremamente infeliz, sedenta de liberdade, deixou um corpo que buscava se adequar a um padrão de beleza inalcançável.

Moral: A aparência pode ser mudada, mas a ALMA não...


Até a próxima!

sábado, 2 de maio de 2009

Umbigo


Passos apressados. O dia não está sendo nada fácil... Você olha para o céu e percebe que ele está tão nublado quanto o seu humor. Dizem que um dia que não começa bem, dificilmente terminará bem. Você geralmente não acredita nessas bobagens, mas acha que vai abrir uma exceção... O salto alto machuca seus pés, sua cabeça dói. Certamente é o ser humano mais azarado da face da terra. Recordando os fatos ocorridos, caminha “no piloto automático”. Nem percebe um morador de rua deitado na calçada. Salta sobre ele, e pensa enfurecida: “cidade suja!”. Faz sinal para um táxi, entra, afrouxa os sapatos, sente-se um pouco aliviada. No meio do caminho, um trânsito congestionado. Mais estresse. Involuntariamente, se distrai por um momento com um grupo de meninos fazendo malabares. Acha graça. Volta a si: “vagabundos!”. Desvia o olhar, admira a propaganda de uma luxuosa grife... a modelo é maravilhosa ... “daria tudo para ser como ela”. Você se sente insatisfeita com a própria aparência, com sua vida. Acha que uma operação estética seria a solução, uma verdadeira dádiva.
Agora, já em seu destino, olha para a fachada do banco, salta do táxi. Paga ao motorista. De repente uma correria. Pânico. Um barulho. Uma escuridão.


***


Você abre os olhos. Está em um hospital. Não enxerga com precisão. Pessoas ao seu redor fazem comentários. Será quanto tempo se passou?... Procura pôr os pensamentos em ordem. Tenta se mexer, não consegue... Agora compreende!... Sente-se ridícula! Olha para as mãos... a unha quebrada havia crescido. E, em pensar que “naquele dia” estava tão revoltada por ter quebrado uma unha!... Achava o fim do mundo o carro estar no conserto, ter que ir ao banco de táxi... Agora estava ali, sem movimentos... Os problemas anteriores pareciam uma piada perto do que teria que enfrentar. Agora o mundo parecia sem sentido algum (ou finalmente teria encontrado o sentido de tudo?). Estava confusa!... Talvez o morador de rua não fosse “a sujeira” da sociedade... talvez os malabaristas do sinal não fossem simplesmente vagabundos...talvez um milagre não se resumisse a uma cirurgia estética. Talvez o universo não girasse ao redor do seu umbigo.

Talvez uma bala perdida não fosse o fim, mas o início de um novo jeito de ver o mundo.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Nas asas de um longa-metragem...



Volta e meia falo neste blog a respeito de liberdade. Seja nos contos ou nos fatos cotidianos, parece que este tema me segue de tal forma que, enquanto me via no difícil dilema de selecionar o filme que marcou a minha vida, acabei me deparando com um fato que até então havia passado despercebido: os filmes que despertam minha admiração tratam (explicitamente ou não) sobre as diversas formas de sermos livres.
Eu poderia falar sobre Um sonho de liberdade, no qual o tema já está no nome, ou sobre Forrest Gump (a cena da peninha voando no fim, embalada por aquela música linda, ainda me emociona). Poderia citar até mesmo As Crônicas de Nárnia, um filme supostamente infantil, com um maravilhoso “ar literário”... Poderia falar de tantas obras cinematográficas... Tantas cenas que me emocionaram, revoltaram ou simplesmente me fizeram esquecer da vida!... Mas, o que considero mais importante que as características de cada filme, é a capacidade que o cinema possui, de modo geral, de nos deixar livres! Podemos em um piscar de olhos ir ao outro lado do mundo (ou visitar lugares imaginários), ou simplesmente ver a representação de nossos problemas cotidianos.
Por isso, é difícil falar de predileção depois de ter sapateado com Billy Elliot, ter atravessado a Europa para realizar O resgate do soldado Ryan e ter visitado o oriente guiada pelas Memórias de uma gueixa... Ao acompanhar as agruras de três órfãos que viviam Desventuras em série, voltei a ser criança... sem contar que só aprendi como A vida é bela, com as situações vividas por um pai que provou ser possível mostrar a seu filho a face mais formosa de uma tragédia.

Foi, no entanto, na sensibilidade de um músico polonês que pude perceber que a sétima arte tem o poder de penetrar na alma...


Baseado na biografia do pianista Wladyslaw Szpilman, O pianista conta a história de um músico que vê sua cidade, Varsóvia, ser tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. Embora não seja a pessoa mais qualificada para comentar aspectos técnicos – uma vez que ao assistir um filme dou prioridade à narrativa -, não posso deixar de comentar a riqueza da caracterização da época, além das excelentes atuações dos atores.
Pensar que varias situações apresentadas no filme fazem parte das recordações de infância do diretor Roman Polanski acentua o fascínio que sinto pela história. O pianista faz não somente com que vivenciemos os horrores da Segunda Guerra, como também nos desperta valores humanos que geralmente fazemos questão de ignorar.

Eis o fascinante poder do cinema: proporcionar desde a diversão imediata ate a mais profunda reflexão.
Ate a próxima!
OBS: Esta postagem possui alguns erros ortográficos pois o meu teclado ficou "maluco".

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"Escravo é aquele que não pode dizer o que pensa."
(Eurípedes)

Li essa frase em algum lugar e por algum motivo ela ficava martelando em minha cabeça. Então, decidi, ao menos hoje, deixar as algemas de lado e comentar um dos muitos absurdos que infelizmente aceitamos com uma naturalidade detestável.

Estamos cansados de saber que...

...um astro do futebol pode somar 50 milhões de reais em sua conta bancária.



...um(a) cantor(a) de axé chega a cobrar 200 mil reais por apresentação.


...1 milhão pode ser o cachê cobrado por uma modelo superfamosa para pisar em uma passarela.




Mas, raramente paramos para pensar que...

...quando esses vips sofrem um acidente, muitas vezes, o salário do bombeiro que os socorre não chega sequer a 1000 reais.



E, para completar...


Provavelmente nenhum dos profissionais citados nunca teriam exercido suas profissões se não tivessem passado pelos bancos escolares. E, vergonhosamente, há inúmeros professores Brasil afora ganhando um mísero salário (algumas vezes abaixo do mínimo).

Tenho plena noção de que este post não mudará em nada o rumo das coisas. Mas, embora não seja forte o bastante para mudar a realidade, ao menos sou livre para contestá-la.

domingo, 12 de abril de 2009

É tempo de Ressurreição



Geralmente quando pensamos em Páscoa, somos levados a imaginar mimosos coelhinhos rodeados por ovos de chocolates... Nem nos damos conta do apelo da mídia em nossas mentes... Enquanto isso, o verdadeiro motivo da comemoração, a belíssima história do único homem que teve a capacidade de vencer a morte, vai se apagando com o tempo. Não sei por que, mas a desenvolvida capacidade do ser humano em ser tão egoísta ainda me surpreende. Enquanto estamos preocupados em comprar os chocolates mais caros e mais ricamente embrulhados para impressionar o outro, esquecemos que há dois mil anos um inocente era crucificado (penalidade dada aos piores bandidos da época). Quando tudo parecia perdido e todos lamentavam seu triste destino, eis que Ele surge, VIVO. Certamente não há relato mais belo em toda trajetória humana. E, agora, alguns séculos depois, o que fazemos? Sequer paramos para pensar na grandiosidade dessa história e nos submetemos às mais cruéis leis do mercado. Comprar, comprar, comprar... Acho que esse verbo resume bem o ser humano atualmente. Não quero ser "estraga prazer" (afinal, eu também mergulhei nos chocolates), só desejo que esta data não passe despercebida e que a vitória de Jesus sobre a morte sirva como incentivo para que possamos a cada dia vencer nossos medos, nossas limitações e, sobretudo, nosso egoísmo!


Boa Páscoa para todos!

domingo, 22 de março de 2009

Recordar é viver...

Essas imagens dizem alguma coisa pra você?



Tenho certeza que a galerinha de vinte e poucos anos respondeu que sim!...

Pois é, hoje acordei meio nostálgica. De vez em quando tenho dessas loucuras...
Como um filme (em VHS), as recordações foram habitando minha mente e de repente pude me ver diante da tv, assistindo a “Cavalo de Fogo”, saboreando bala soft (tomando muito cuidado para não engasgar), compradas com algumas destas notas:



Tempo que não volta mais...
Naquela época, os rabiscos da Escrevedora eram feitos com:


Bom, gostaria de compartilhar todas as lembranças dessa época com vocês, mas esta postagem ficaria compriiiiiiida! Rsrsrs
Então, vou continuar guardando com todo zelo para que elas não sejam atacadas pelo seu pior inimigo: o esquecimento!

Se quiserem recordar também, há um blog muito legal (de onde extraí grande parte das imagens dessa postagem): http://www.voceselembra.com/search/label/Desenhos
Até a próxima!

domingo, 8 de março de 2009

Mulher

Criada a partir de uma costela.
– Serás a companheira dele.
Não demorou muito para que a harmonia se transformasse em culpa. Vergonha. Enganada por uma serpente. Forma-se um paradoxo: bênção e sofrimento em um só momento. Trazer um novo ser ao mundo: um dom, uma dor.
Agora sua vida é o lar. Lavar, cozinhar, procriar. Amar?
– Serás a companheira dele.
A frase vai perdendo o sentido. A companhia se transforma em sombra.
CONFORMAÇÃO.
Até que... aos poucos sua beleza vai sendo descoberta. Sonetos, pinturas, melodias. Musa de inspiração. Realidade e fantasia se confundem.
– Serás a companheira dele.
Estão cada vez mais distantes. Uma deusa inalcançável. Uma mulher esquecida.
Então, uma geração rebelde grita aos quatro cantos que é preciso mudar. Sutiãs queimados em praças públicas. A tão almejada liberdade!...
Inversão de valores. Agora ela traz o sustento para o lar. Auto- suficiente. Já não precisa lavar, cozinhar, procriar. Amar?
– Serás a companheira dele.
A companhia, no entanto, se transforma em autoridade. Agora é sua patroa.
O tempo, impiedoso, faz questão de lhe mostrar que não era bem isso que almejava. Não deseja os extremos. Nem a submissão nem a autoridade. Deseja ser feliz.
– Serás a companheira dele.
Agora a frase do Criador começa a fazer sentido... Lavar e cozinhar já não são exclusividades dela. Um novo verbo é incluso: compartilhar.
Conhece os mistérios do seu corpo, já não basta procriar. Amar? Conclui que esse verbo nunca abandonará a interrogação, porém, possui agora liberdade para se entregar.
Já não cai na conversa torta da serpente. Sabe muito bem o que deseja.
Retornou ao paraíso? Tudo indicaria que sim, não fosse um porém: possui um novo senhor, ao qual obedece cegamente. Submete-se às suas regras mais absurdas, sequer questiona suas imposições. Tornou-se serva de um padrão, que insiste em afirmar que todas são iguais, que há somente um tipo de beleza. Abre mão de sua felicidade, de sua liberdade. Contenta-se em ser um objeto.
A pecadora, a submissa, a musa, a rebelde. Todas resumidas em uma: a escrava de um bisturi.

E o Oscar vai para...



Vocês não imaginam a alegria que senti ao saber que havia sido indicada para receber este selo! Quem diria que as loucuras dessa “Escrevedora” seriam dignas de tamanho reconhecimento. Obrigada meninas e desculpem por não ter divulgado antes...
Recebi dos blogs:

http://miiparanhos.blogspot.com/
http://versosemrima.blogspot.com/
http://pralademarraquexe.blogspot.com/

Como todo selo, este também tem suas regrinhas (fique à vontade para segui-las ou não).

Eis as "normas" que cumprirei aos pouquinhos:

1. Exiba a imagem do selo “Olha Que Blog Maneiro” que você acabou de ganhar


2. Poste o link do blog que te indicou.


3. Indique 10 blogs de sua preferência.


4. Avise seus indicados.


5. Publique as regras.


6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras.


7. Envie sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com juntamente com os 10 links dos blogs indicados para verificação.


O segundo selinho que me deixou radiante foi:



Presente oferecido pela minha amiga Vanessa, do blog http://pralademarraquexe.blogspot.com/

As regrinhas deste selo são:

1.Publicar o link da pessoa que o nomeou;

2.Escrever estas regras no blog;

3.Contar 6 coisas aleatórias sobre você;

4.Indicar mais 6 pessoas e colocar os respectivos links no final do post;

5.Avisar as pessoas que indicou, deixando um comentário em seu blog;

6.Deixar os indicados saberem quando publicar o seu post.

6 coisas sobre mim?...Xiii, que desafio... Mas, vamos lá:

1- Não gosto da cor vermelha, flores vermelhas então, nem pensar...
2- Às vezes gosto de ficar admirando o céu... Acho que isso não é normal! rsrsrs
3- Palavras: como seria a vida sem elas?
4- Sonho conhecer Paris.
5- Tenho medo da velhice.
6- Prefiro o chocolate branco.

* Em breve publico as minhas indicações para os dois selos.

Mais uma vez obrigada a todos e até a próxima!

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Promessas de um novo mundo


As crianças são o futuro das nações. Eta discursinho velho... Quando assistimos ao documentário Promessas de um novo mundo percebemos o quanto o futuro do planeta está repleto de ideologias, preconceitos e rivalidades do passado. Afinal que futuro é esse, onde tudo está condicionado a ser como antes?
Bom, revoltas à parte, vamos ao documentário.
Embora seja de 2001, somente tive possibilidade de assisti-lo na semana passada (antes tarde do que nunca!). O filme traz à tona os constantes conflitos entre palestinos e israelenses, porém, com uma peculiaridade: tudo é visto e comentado sob o ponto de vista infantil. Infantil? As palavras ditas pelas crianças são tão cortantes quanto a arma de um general. A convicção com que defendem suas posições ideológicas - em sua maioria repletas de ódio e mágoas - evidencia uma assustadora e triste realidade: o futuro está inevitavelmente atado ao presente e fatalmente subordinado ao passado.
Quando pensamos, porém, que tudo está perdido, Promessas de um novo mundo nos surpreende, e mostra que ainda há uma esperança...
Eu poderia escrever linhas e linhas sobre essa produção, mas nunca poderia traduzir a emoção que senti ao assisti-lo...
Por isso, se tiver possibilidade, assista... Vale muito a pena!
Deixo aqui um link com maiores informações:



Até a próxima!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

As mãos meio vacilantes seguram o lápis.
A partir desse momento sinto como se o mundo parasse. Estou em uma outra dimensão.
Pode parecer estranho, mas essa é a sensação que tenho quando desenho(e também quando escrevo). Há muito tempo não me dava ao luxo de rabiscar,mas é surpreendente a liberdade que "essa história de blog" dá para a gente! O título lá em cima é prova disso, é o primeiro desenho que fiz, depois de muitos anos (embora eu não seja tão velha assim)...
Desse modo, o conto Medo tem um significado especial para mim: possibilitou que desenterrasse uma paixão há muito escondida. Possibilitou que a “escrevedora” compartilhasse lugar com a “desenhadora” ou “rabiscadora”, como quiserem...
Eis o resultado...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mais um conto...

Os passos eram apressados. Fazia jus ao dito popular “tirar o pai da forca”. Ansiava chegar em casa como nunca ansiou algo na vida. Por que a fila no banco estava tão grande? Quando lembrava da lentidão com que a atendente realizava o seu serviço, a ansiedade cedia lugar à ira. A tarde havia sido muito agitada. As coisas haviam fugido de seu controle. Tudo se complicou ainda mais quando encontrou com uma antiga colega de escola. Falava como uma matraca... O que lhe interessava se havia casado e tido filhos? A sua profissão e coisas do gênero? Nunca foram grandes amigos e agora estava ali, diante de uma quase desconhecida, obrigado a escutar histórias patéticas e maçantes. Tinha vontade de calar a boca daquela criatura, mas a boa educação não o permitia. Olhava insistentemente para o relógio: não tardaria a anoitecer. Ela, como as demais pessoas que conhecia, certamente não imaginava que havia um limite que jamais deveria ser violado, uma regra que jamais poderia ser transgredida: em hipótese alguma poderia estar na rua ao anoitecer.
Caro leitor, esta poderia ser uma história de vampiros, um terror assombroso, com pinceladas de sobrenatural: sinto decepcioná-lo. O episódio narrado é somente um dia corriqueiro, de um cidadão “comum”, que provavelmente se repete todos os dias, sem que tenhamos conhecimento. O que não significa que seja menos assustador...
Dobrou a esquina, apertou ainda mais o passo. Olhava insistentemente para todos os lados. Sentia que o inimigo estava próximo. A rua mal iluminada contribuía para o crescimento de seu desespero, o qual chegou ao ápice quando escutou passos atrás de si. Estaria imaginando coisas? Não, não podia ser... Andou mais depressa e teve a sensação que a criatura o seguia. Seria um assaltante? Certamente... via todos os dias na televisão casos de pessoas que eram assaltadas e... Meu Deus!... Poderia ser pior! E se fosse um assassino? Sentiu um nó na garganta, a essa altura já suava frio. A situação piorou quando ouviu um barulho, como se o “assassino” abrisse uma bolsa. Pensou: estou morto! Está pegando o revólver!
Já conseguia imaginar seu funeral. Pode parecer estranho, mas a idéia não lhe desagradou totalmente, afinal, todos aqueles que riam dele, que o chamavam de louco por não sair às ruas à noite, por calcular cuidadosamente cada passo a ser dado, veriam que o perigo era real! Veriam que ele não era um medroso! Afinal, tinha culpa se confiava somente em si mesmo? Se as outras pessoas eram tão violentas?... Os noticiários comprovavam todos os dias a sua teoria: não havia restado pessoas honestas no mundo. Ele era o único. Toc, toc, toc, os passos continuavam, o que interrompeu seu pensamento. Estavam mais próximos... cada vez mais próximos... Até que... ESTAVAM A SEU LADO! Não pôde reprimir um grito de horror! Fechou os olhos e esperou pelo pior!
S I L Ê N C I O ...
Cadê o pior?
Não veio...
Abriu os olhos: uma velhinha dobrava a esquina segurando um guarda-chuva. O medo havia sido tão grande que nem notou que começava a chuviscar... Certamente isso explicava o barulho da bolsa: era um guarda-chuva e não um revólver! Respirou aliviado e continuou caminhando, já estava próximo de casa. Entrou correndo, fechou a porta atrás de si com um sorriso no rosto. Estava em casa! Tomou um banho, comeu tranqüilamente, viu televisão. Estava feliz!... Nada se comparava à segurança do seu lar! Deitou em sua cama, estava exausto, porém já fazia os cálculos em sua mente para que o atraso não se repetisse no outro dia. Refez mentalmente cada trajeto para que quando anoitecesse já estivesse em seu lar. Todo cuidado era pouco...
O sono ia chegando lentamente... Aconchegou-se. A idéia de estar em segurança o acalentava. Fechou os olhos.
Cadê o pior?
Desta vez o pior veio.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Quadrinho é coisa de criança?



Se você é uma daquelas pessoas que torce o nariz quando vê um adulto lendo histórias em quadrinhos, ou pior, adora uma “história quadriculada”, mas tem vergonha de admitir porque todo mundo diz que “é coisa de criança”... Você realmente precisa rever seus conceitos!
Já se foi o tempo em que o tema dos quadrinhos se restringia às aos super-heróis ou aos mimosos personagens Disney. Hoje é possível não somente se divertir, mas também se emocionar com narrativas cuja arte vai muito além dos elaborados traços dos artistas.
Deixo aqui uma dica, dos muitos títulos que estão surgindo nas livrarias (isso aí, LIVRARIAS, não na centenária banca de jornal).



PERSÉPOLIS



Persépolis é a autobiografia em quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi e, nesta edição, é publicada em volume único, que reúne as quatro partes da história. Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa. Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares. Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama - e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.
Resumo extraído do site: www.biglivros.com.br/



Resumindo: um dos melhores livros que já li! Vale a pena!

sábado, 10 de janeiro de 2009

O que fazer quando escutamos um “não”? Algumas vezes essa palavrinha com apenas três letras adquire o peso do mundo, além de funcionar como uma eficiente aniquiladora de sonhos... Nem sempre, porém, precisa ser assim: há momentos em que um “não” serve apenas para aparar nossas asas, a fim de que mais tarde elas cresçam com mais força...

Eis mais um conto cujo tema é essa menina travessa que chamamos de "liberdade".

OBS: O tema é tão sugestivo, que a minha imaginação adquiriu vontade própria e se recusa a inventar um título... Ela adora essa história de ser livre!...
Por isso, aceito sugestões!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Um dia descobriu que podia voar. Na verdade, tudo começou na infância, entre uma brincadeira e outra, quando o mundo parecia a seus olhos uma grande máquina de inventar. No início não se importou muito... era um menino ocupado com seus brinquedos e estripulias, não tinha tempo a perder. Levantava cedo da cama, olhava para o céu e admirava a dança meio desengonçada das nuvens. Então, fazia o que mais gostava: corria sem limites, desafiava o vento e, se o dia estivesse chuvoso, sem problemas, abraçava a chuva e esperava ansiosamente para colher os primeiros raios de sol, os quais ia espalhando devagarzinho pelo caminho. Era um espetáculo tão bonito que até o entardecer dava um jeitinho de chegar mais cedo para ver o menino passar! Quando vinha a noite, esticava os braços, como se pudesse alcançar as estrelas, que por sua vez brincavam de se esconder somente para escutar o som de sua gargalhada.
Em um desses dias, porém, o menino acordou diferente: não quis apostar corrida com o vento, sequer reparou que chovia e não colheu nem um raiozinho de Sol: de repente tudo havia perdido a cor... Pôs-se a lembrar da mãe, suas últimas palavras, seu olhar angustiado, momentos antes de virar anjo. Assim, sentindo em seus ombros o peso do mundo, o menino encurvou-se e deitou debaixo de uma árvore, fechou os olhos, sentiu uma lágrima escorrer em sua face e desejou ir para bem longe... Não se sabe ao certo o que acontece quando desejamos algo com muita vontade, mas, o fato é que algumas vezes a linha que separa o sonho da realidade simplesmente deixa de existir.
Ainda de olhos fechados, o menino sentiu que seus pés já não tocavam o chão. Medo e surpresa disputavam um espaço no interior de seu pequeno e franzino corpo. E se caísse? Tal pensamento lhe proporcionava uma insegurança que o impedia de olhar ao redor. Não devemos, porém, subestimar a curiosidade de uma criança: respirou fundo, encolheu os ombros e foi abrindo os olhos devagarzinho... A visão era belíssima... Em sua mente infantil jamais havia imaginado a existência de tantas cores, tantas formas, tantos seres... Realmente podia voar!
O medo transformou-se em prazer e, nosso herói conheceu muitos lugares, visitou terras inexploradas e culturas inimagináveis, o que lhe deu uma idéia: poderia relatar cada viagem, cada novo amigo, cada aventura vivida em um diário. Seu caderninho se tornou, então, um companheiro inseparável. Seu maior prazer era sentar-se em uma torre ou montanha bem alta e reproduzir com seus traços coloridos as paisagens, as pessoas se movimentando apressadas de lá para cá sem se darem conta de que eram observadas por um atento par de olhinhos.
Durante algum tempo o menino caminhou lado a lado com a liberdade. Tornaram-se grandes amigos... Mas, infelizmente, nem tudo é eterno e, um dia, seu pai, que vinha notando a crescente ausência do filho, cobrou explicações. O menino engasgou, procurou as palavras certas, porém, sem saída, soltou:
– Pai, eu sei voar!...
Ao contrário do esperado, o pai não esbravejou, não mostrou qualquer sinal de irritação, simplesmente abaixou os olhos e disse com uma vozinha fraca, quase sumindo, refletindo uma dor que o menino jamais teria imaginado existir:
– Não sabe, não.
Desde esse dia não houve mais passeios ao redor do mundo, o caderninho ficou abandonado em uma gaveta e o nosso menino se tornou uma criança “normal”. Aos poucos a adolescência foi retirando os pedacinhos de infância que ainda restavam e, a dança desengonçada das nuvens, a corrida com o vento e os raios de sol lançados pelo caminho tornaram-se reminiscências a cada momento mais distantes... Nem mesmo as estrelas jamais voltaram a ouvir suas gargalhadas.
Até que chegou o dia em que, definitivamente, o menino, agora homem, foi embora. Suas viagens ganharam um propósito diferente. Já não precisava desejar intensamente, bastava comprar uma passagem de avião. As torres e montanhas foram trocadas por hotéis caros e luxuosos. Já não desenhava as paisagens e as pessoas, afinal, não havia mais aventuras nem amigos. Alcançara, porém, seu objetivo, conseguira agradar seu pai.
Em meio à sua vida agitada, uma triste notícia. O “menino” retorna. Refaz o caminho que por tantas vezes adornou com os raios de sol. Entra em casa, mira-se no espelho, repara no terno elegante, nos sapatos caríssimos, que de repente perderam todo seu valor... Revê seus brinquedos, começa a lembrar de suas aventuras... sobe as escadas correndo, revira as gavetas. Em sua mente um misto de passado e presente... as palavras de consolo há pouco, no funeral do pai... a sensação de vazio experimentada na partida de sua mãe...sensações confusas, há pouco desenterradas... Encontra o caderno, as páginas amareladas pelo tempo... Relê suas anotações... acha graça, se emociona... Recorda as belas viagens... Experimenta mais uma vez a doce companhia de sua amiga liberdade, que se aproxima devagar. Fecha os olhos, nada mais importa.

E, quando se dá conta, seus pés já não alcançam o chão...

domingo, 4 de janeiro de 2009

LIBERDADE


Quantas vezes nos sentimos realmente livres ao longo de nossas vidas? Dificilmente alguém pode dar uma resposta a tal questionamento sem parar pelo menos um instante para refletir. Alguns responderiam que são livres por possuirem um negócio, outros por terem adquirido a tão sonhada casa própria... Mas, será que a liberdade se resume a isso? Justamente por considerar o tema intrigante, iniciei uma série de contos que falam de alguma forma sobre a possibilidade de sermos livres, no sentido mais abrangente da palavra. Dom Quixote urbano é o primeiro... Espero que gostem!

sábado, 3 de janeiro de 2009

DOM QUIXOTE URBANO


O relógio marcava seis horas. Detestava o barulho do despertador, pois era o sinal de mais um dia rotineiro. Levantou-se lentamente... Poderia parecer estranho, mas sentia que aquele dia não seria como os outros. Durante o café ficou em silêncio todo o tempo, pôs-se a observar a esposa, seus olhos, seu sorriso... Como pôde ignorar sua beleza por tanto tempo? A mulher meio desconfiada perguntou se estava tudo bem. Com um aceno respondeu que sim. Alheias, as crianças brincavam e conversavam alegremente enquanto devoravam um pedaço de pão. Eram seus herdeiros... Herdeiros? Sequer possuíam um teto... O pequeno cômodo alugado onde moravam mal dava para os quatro sobreviverem!
Contrariando, porém, toda expectativa, naquele dia se sentia um rei. A rainha, na borda do fogão e seus dois pequenos príncipes, com seus uniformes surrados de uma escola pública, pareciam a seus olhos a mais linda família que alguém poderia ter. Antes de sair deu em cada um deles um beijo demorado, se perguntando como nunca havia reparado que era tão rico! A expressão da esposa era agora de assombro. O que teria acontecido para que o marido ficasse tão estranho? Sacudiu os ombros e deduziu que “aquilo devia ser coisa de momento”.
Agora na rua, João – este era o seu nome – fazia o trajeto que o conduziria ao trabalho. Não tomou o ônibus, como de costume. Sentiu uma inexplicável vontade de caminhar... o mundo hoje se apresentava tão diferente a seus olhos... Olhou para o céu, fazia tempo que não notava a sua existência... Estava azul, um azul tão bonito, que não pôde disfarçar um sorriso. Chegou ao centro da cidade e, de repente viu os arranha-céus, mas... havia alguma coisa diferente... Com as mãos calejadas pelos anos de trabalho pesado, esfregou os olhos, não conseguia compreender... Diante de si os edifícios se transformavam paulatinamente em monstros ameaçadores, como aqueles que via na tv. “Estou ficando louco” , pensou. Mas, tal pensamento não o impediu de se imaginar com uma brilhante armadura dourada e uma espada afiada, a fim de vencer os gigantescos inimigos. Conseguia até imaginar a gratidão das pessoas e os brados de euforia pelo seu ato heróico!
Ainda radiante com sua “coragem”, continuou sua caminhada com passos firmes, até que avistou uma moradora de rua, que todos os dias, durante muitos anos, mendigava no mesmo lugar. Quando se aproximou da mulher, João percebeu que suas roupas, antes rasgadas e sujas foram se transformando em um lindo vestido que, tal como a beleza de seu rosto, encantava a quem olhasse. Ignorando, então, o olhar incrédulo da mendiga, aproximou-se e, prontamente, beijou sua mão, fazendo um gesto de reverência, como se estivesse diante de uma distinta dama. Depois, sem uma palavra, se afastou, mantendo a postura e a firmeza dos passos de um soberano. Nem escutou quando, ainda surpresa, a pedinte balbuciou: “esse aí está pior do que eu!”
Quando finalmente chegou ao trabalho, já não estranhava seus pensamentos de grandeza e realmente acreditava pertencer à realeza. Cumprimentou os companheiros da obra, mas ao invés de começar a fazer massa, pregar tábuas ou carregar tijolos, começou a subir nos andaimes. Passo a passo, o chão parecia se afastar cada vez mais... Até que as pessoas se transformaram em pontinhos minúsculos... Estava no topo, agora era realmente um rei! Já não teria que se preocupar com a comida das crianças, as contas a pagar, o olhar de decepção da mulher a cada dia de privação. Agora era um rei! E, segundo seu conhecimento, um rei poderia fazer tudo! Até mesmo voar...
Sim, poderia fazer tudo! Era um rei! Subiu no parapeito ainda inacabado da construção, meio cambaleante tentou se equilibrar... Sentiu o vento em seu rosto, fechou os olhos, abriu os braços como um pássaro... pôs um pé à frente, depois o outro...
João não plantou um pé de feijão, não se perdeu na floresta, nem foi um apóstolo... Mal conhecia o Dom João, da História do Brasil. O nosso João era um cidadão comum, até um dia acordar rei. Até pensar que poderia voar. Até ter seu corpo cercado por curiosos em uma avenida de uma grande cidade. Até se permitir, por um dia, ser mais que um operário. Até se permitir, ao menos por um dia, ser um sonhador.