sábado, 10 de abril de 2010

Você tem medo de quê?

Há alguns meses, pedi a meus alunos do ensino fundamental (7º ano) que escrevessem uma redação cujo tema era: “Você tem medo de quê?”. Lembro, durante a correção, ter me deparado com respostas curiosas, como, por exemplo, um aluno que temia o fim do futebol no Brasil. O que me despertou grande comoção, no entanto, foi o fato de a maioria dos educandos nutrirem medos extremamente arraigados à realidade cotidiana. Já se foi (há muito) o tempo em que o maior medo dos jovens estava relacionado ao imaginário, ao sobrenatural. Meu pai relata que na juventude “morria de medo” de um vizinho que, supostamente, virava lobisomem.
Os lobisomens que assombram os jovens do século XXI são o desemprego, a miséria, a violência. Perdi as contas de quantos textos citavam o medo da agressão, do assalto, do estupro... E, por unanimidade: o medo da morte.

A leitura das redações trouxe à tona medos que eu nem sabia possuir. Eu – a professora, a adulta – descobri uma fragilidade tão grande quanto a daqueles jovens.

Nos últimos dias, as catástrofes trazidas pela chuva no estado do Rio de Janeiro reacenderam em minha mente uma frase que estava presente em muitos textos que corrigi: “Tenho medo de perder aqueles que amo”. As cenas transmitidas pela mídia personificaram a frase dos meus alunos, personificaram um sentimento que habita em praticamente todos os humanos...

“Tenho medo de perder aqueles que amo.”

Tragédias ocorrem a todo momento nos mais diversos lugares do planeta. Assistimos passivamente, no conforto de nossos lares às guerras, aos terremotos, às barbáries humanas. Mas... E quando as vítimas são nossos “vizinhos”?... E quando vemos cara a cara a possibilidade de sermos nós os protagonistas dessas tragédias e não aqueles personagens distantes que vemos nos telejornais?...
Para aqueles, cujo medo se transformou em uma realidade, não há muito o que dizer. Não há palavras de consolo. Não há fórmulas que sequem as lágrimas. Para as vítimas dos deslizamentos (sobretudo no município de São Gonçalo), não ofereço belas palavras ou qualquer tentativa de explicação para o ocorrido. Ofereço somente minha silenciosa oração a Deus.