sábado, 2 de maio de 2009

Umbigo


Passos apressados. O dia não está sendo nada fácil... Você olha para o céu e percebe que ele está tão nublado quanto o seu humor. Dizem que um dia que não começa bem, dificilmente terminará bem. Você geralmente não acredita nessas bobagens, mas acha que vai abrir uma exceção... O salto alto machuca seus pés, sua cabeça dói. Certamente é o ser humano mais azarado da face da terra. Recordando os fatos ocorridos, caminha “no piloto automático”. Nem percebe um morador de rua deitado na calçada. Salta sobre ele, e pensa enfurecida: “cidade suja!”. Faz sinal para um táxi, entra, afrouxa os sapatos, sente-se um pouco aliviada. No meio do caminho, um trânsito congestionado. Mais estresse. Involuntariamente, se distrai por um momento com um grupo de meninos fazendo malabares. Acha graça. Volta a si: “vagabundos!”. Desvia o olhar, admira a propaganda de uma luxuosa grife... a modelo é maravilhosa ... “daria tudo para ser como ela”. Você se sente insatisfeita com a própria aparência, com sua vida. Acha que uma operação estética seria a solução, uma verdadeira dádiva.
Agora, já em seu destino, olha para a fachada do banco, salta do táxi. Paga ao motorista. De repente uma correria. Pânico. Um barulho. Uma escuridão.


***


Você abre os olhos. Está em um hospital. Não enxerga com precisão. Pessoas ao seu redor fazem comentários. Será quanto tempo se passou?... Procura pôr os pensamentos em ordem. Tenta se mexer, não consegue... Agora compreende!... Sente-se ridícula! Olha para as mãos... a unha quebrada havia crescido. E, em pensar que “naquele dia” estava tão revoltada por ter quebrado uma unha!... Achava o fim do mundo o carro estar no conserto, ter que ir ao banco de táxi... Agora estava ali, sem movimentos... Os problemas anteriores pareciam uma piada perto do que teria que enfrentar. Agora o mundo parecia sem sentido algum (ou finalmente teria encontrado o sentido de tudo?). Estava confusa!... Talvez o morador de rua não fosse “a sujeira” da sociedade... talvez os malabaristas do sinal não fossem simplesmente vagabundos...talvez um milagre não se resumisse a uma cirurgia estética. Talvez o universo não girasse ao redor do seu umbigo.

Talvez uma bala perdida não fosse o fim, mas o início de um novo jeito de ver o mundo.