sábado, 21 de julho de 2012

Interpretação de textos não é mistério!


Você é daqueles que treme na hora de interpretar um texto? Acha que os autores são verdadeiros malucos e que sua interpretação nunca está de acordo com os gabaritos das provas de concursos e vestibulares? Bom, tenho uma boa notícia: compreender o sentido de um texto pode ser muito mais tranquilo do que você pensa!
Vejamos...

INOCENTES DO LEBLON*
Carlos Drummond Andrade

Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe emigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.


Uma leitura inicial do poema não nos transmite muitas informações, não é mesmo? Quem seriam os inocentes do Leblon? Que navio seria esse, com  bailarinas, imigrantes, “grama de rádio”?
Tudo começa, no entanto, a fazer sentido se levarmos em conta que tal poema foi publicado no livro Sentimento de mundo,  em 1940. E qual era o contexto sociopolítico dessa época? Isso mesmo, acertou se você respondeu SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.


Ah, então, agora ficou mais “fácil”, não é mesmo? Afinal, falar em Segunda Guerra Mundial traz a nossa memória o sofrimento imposto pelos nazistas , o grande número de refugiados europeus (que imigravam nos navios)  e, sem dúvidas, a recordação mais devastadora: o uso de bombas nucleares. Assim, vemos  que ao utilizar o termo “os inocentes do Leblon”, o poeta faz uma contundente crítica á alienação – vale lembrar que o Brasil começou a participar do conflito somente em 1942 . Desse modo, enquanto o mundo passava por profundas transformações, enquanto imigrantes, refugiados da guerra, desembarcavam no país, com seus corpos impregnados por “um grama de rádio” (elemento radioativo), as pessoas  continuavam priorizando a “areia quente” e o “óleo suave”, no verão carioca.

O mais surpreendente é que podemos fazer uma analogia com os dias atuais, afinal, enquanto diversas nações reivindicam seus direitos sociopolíticos, o brasileiro segue cantando: "eu quero tchu, eu quero tcha..."

Agora, que você possui tais informações, releia o poema... Ficou mais claro?

Não é mágica, é Literatura!

Abraço e, até a próxima!


*ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundoSão Paulo: Companhia das Letras,  2012.

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