Você é daqueles que treme na hora de interpretar um texto?
Acha que os autores são verdadeiros malucos e que sua interpretação nunca está
de acordo com os gabaritos das provas de concursos e vestibulares? Bom, tenho uma
boa notícia: compreender o sentido de um texto pode ser muito mais tranquilo
do que você pensa!
Vejamos...
INOCENTES DO LEBLON*
Carlos Drummond Andrade
Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe emigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
Uma leitura inicial do poema não nos transmite muitas
informações, não é mesmo? Quem seriam os inocentes do Leblon? Que navio seria
esse, com bailarinas, imigrantes, “grama
de rádio”?
Tudo começa, no entanto, a fazer sentido se levarmos em conta
que tal poema foi publicado no livro Sentimento de mundo, em 1940. E qual era o contexto sociopolítico
dessa época? Isso mesmo, acertou se você respondeu SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
Ah, então, agora ficou mais “fácil”, não é mesmo? Afinal,
falar em Segunda Guerra Mundial traz a nossa memória o sofrimento imposto pelos
nazistas , o grande número de refugiados europeus (que imigravam nos navios) e, sem dúvidas, a recordação mais devastadora:
o uso de bombas nucleares. Assim, vemos que
ao utilizar o termo “os inocentes do Leblon”, o poeta faz uma contundente
crítica á alienação – vale lembrar que o Brasil começou a participar do conflito
somente em 1942 . Desse modo, enquanto o mundo passava por profundas
transformações, enquanto imigrantes, refugiados da guerra, desembarcavam no
país, com seus corpos impregnados por “um grama de rádio” (elemento radioativo),
as pessoas continuavam priorizando a “areia
quente” e o “óleo suave”, no verão carioca.
O mais surpreendente é que podemos fazer uma analogia com os dias atuais, afinal, enquanto diversas nações reivindicam seus direitos sociopolíticos, o brasileiro segue cantando: "eu quero tchu, eu quero tcha..."
Agora, que você possui tais informações, releia o poema... Ficou
mais claro?
Não é mágica, é Literatura!
Abraço e, até a próxima!
*ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
*ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Parabéns pelo blog...abraço.
ResponderExcluirObrigada!... Abraço!
ExcluirNão sou um grande fã de literatura , mas depois de sua analise fez um grande sentido esse poema ! obrigado !
ResponderExcluirQue bom!... Agradeço a visita!
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