sexta-feira, 27 de julho de 2012

O meu preço (José Craveirinha)



Eu cidadão anónimo
do País que mais amo sem dizer o nome
se é para me dar de corpo e alma
dou-me todo como daquela vez em Chaimite.
Dou-me em troca de mil crianças felizes
nenhum velho a pedir esmola
uma escola em cada bairro
salário justo nas oficinas
filas de camiões carregados de hortaliças
um exército de operários todos com serviço
um tesouro de belas raparigas maravilhando as praias
e ao vento da minha terra uma grande bandeira sem quinas.

Se é para me dar
dou-me de graça por conta disso.

Mas se é para me vender
vendo-me mas vendo-me muito caro.

Ao preço incondicional
de quanto me pode custar este poema.

(Cela 1. Maputo: Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980, p. 43)

sábado, 21 de julho de 2012

Interpretação de textos não é mistério!


Você é daqueles que treme na hora de interpretar um texto? Acha que os autores são verdadeiros malucos e que sua interpretação nunca está de acordo com os gabaritos das provas de concursos e vestibulares? Bom, tenho uma boa notícia: compreender o sentido de um texto pode ser muito mais tranquilo do que você pensa!
Vejamos...

INOCENTES DO LEBLON*
Carlos Drummond Andrade

Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe emigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.


Uma leitura inicial do poema não nos transmite muitas informações, não é mesmo? Quem seriam os inocentes do Leblon? Que navio seria esse, com  bailarinas, imigrantes, “grama de rádio”?
Tudo começa, no entanto, a fazer sentido se levarmos em conta que tal poema foi publicado no livro Sentimento de mundo,  em 1940. E qual era o contexto sociopolítico dessa época? Isso mesmo, acertou se você respondeu SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.


Ah, então, agora ficou mais “fácil”, não é mesmo? Afinal, falar em Segunda Guerra Mundial traz a nossa memória o sofrimento imposto pelos nazistas , o grande número de refugiados europeus (que imigravam nos navios)  e, sem dúvidas, a recordação mais devastadora: o uso de bombas nucleares. Assim, vemos  que ao utilizar o termo “os inocentes do Leblon”, o poeta faz uma contundente crítica á alienação – vale lembrar que o Brasil começou a participar do conflito somente em 1942 . Desse modo, enquanto o mundo passava por profundas transformações, enquanto imigrantes, refugiados da guerra, desembarcavam no país, com seus corpos impregnados por “um grama de rádio” (elemento radioativo), as pessoas  continuavam priorizando a “areia quente” e o “óleo suave”, no verão carioca.

O mais surpreendente é que podemos fazer uma analogia com os dias atuais, afinal, enquanto diversas nações reivindicam seus direitos sociopolíticos, o brasileiro segue cantando: "eu quero tchu, eu quero tcha..."

Agora, que você possui tais informações, releia o poema... Ficou mais claro?

Não é mágica, é Literatura!

Abraço e, até a próxima!


*ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundoSão Paulo: Companhia das Letras,  2012.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Paulina Chiziane


Em todas as guerras do mundo nunca houve arma mais fulminante que a
mulher, mas é aos homens que cabem as honras de generais.

(Paulina Chiziane. Ventos do Apocalipse)



Ela aprendeu a escrever debaixo de uma árvore, 
rabiscando as primeiras palavras na areia. 
Hoje, seus textos são traduzidos para os mais diversos idiomas.
A primeira moçambicana a publicar um livro.
Sensibilidade, inteligência, militância.
Uma contadora de histórias, uma observadora do mundo!


sábado, 7 de julho de 2012

Possibilidades


(Josiléa Pinheiro)














E se o amor acabar?
Se a lágrima rolar?
Se der vontade desistir?
Se o alicerce ruir?
Sem explicação,
acharei graça da dor.
Cantarei em outro tom
Dançarei um novo ritmo
Inventarei uma nova história
E, se não for suficiente,
farei um acordo com a lógica:
Jamais a encontrarei novamente...
                                ...simplesmente.